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ISIDRO SOUSA
( Portugal )
Autor, Jornalista, Antologista e Editor.
1996 - Fundador e Editor da revista Korpus
1996-2008 - Director, Redactor e Fotógrafo da Korpus
2001 - Coordenador da «1ª Antologia de Literatura Homoerótica Portuguesa», Edição Korpus/Opusgay (com o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa)
2003/2004 - Colaborador da Zayas Editora
2003/2016 - Editor do guia Lisbon Gay Guide
2005-2008 - Redactor na Editora Colorpress
2008 - Fundador e Editor do jornal Púbico
2008-2012 - Director e Redactor do Púbico
2010 - Editor da revista Xy (edição experimental)
2012 - Colaborador da revista Qüir
2014-2015 - Participações literárias em vários projectos promovidos por diversas editoras (Portugal e Brasil)
2015 (Setembro/Novembro): Coordenador de Projectos Literários da Silkskin Editora e Agente Literário do Grupo Múltiplas Histórias
2015 - Organização e Coordenação da antologia «Boas Festas» para a Silkskin Editora
2015 - Fundador e Director da Colecção Sui Generis
2015/2016 - Organização das Antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Sexta-Feira 13», «Os Vigaristas», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras» e «Devassos no Paraíso»
SOM DE POETAS – Colectânea de Poesia. Lisboa?: Papel D´Arroz Editora, Múltiplas Histórias Unipessoal Ltda., 2015.
418 p. ISBN 978-989-8796-37-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
NO TEMPLO DA POESIA
Efebos esbeltos semidesnudados na singeleza da sus clâmide
abrem alas pela longa escadaria de mármore
que ascende ao pórtico do templo de poesia
Na mão direita, apontada para as lajes térreas, seguram máscaras
utilizadas no quotidiano pelo comum dos mortais
Ao cimo, junto às colunatas e de frente para a numerosa plebe
jovens hercúleos de semblantes apolíneos, revestidos de ouro
— com peitos-de-armas em prata reluzindo o espírito de Febo
erguem trombetas douradas que hão-de soar à hora dos poetas
O céu azul, de tons claríssimos, harmoniza o belo e o rude
medeia o tempo da esperança
Lá dentro, em cadeiras de bronze sentam-se vestais desnudas
pernas cruzadas, convictas da sua castidade, prontas a servir
— cobertos apenas os seios com estrelas de esmeraldas
rubis aplicados sobre os mamilos retesados
Junto ao portentoso altar e iluminadas pelo fogo sagrado
sacerdotisas de Apolo arrastam pesadas túnicas de seda roxa
bordadas a ouro, cravadas de ametistas
entoando lamentos de mau augúrio para a imensa multidão
que foi ensinada a esperar dos deuses — ou de alguns homens
as mesmas respostas que cada um de nós pode encontrar
no seu Eu profundo — desde que saiba ver, ouvir, reflectir
Numa das naves interiores, poetas recebem os seusdica pares...
Homero canta a nobreza do amor de Aquiles e de Patroclo
heróis cultuados como exemplo de dedicação e valentia
que enfrentaram o sangue e a morte, alimento sórdido de Ares
modernamente perpetuado nas vontades daqueles que lideram
a ignorância, a fome, a violência, a guerra
Virgílio glorifica na Eneida os destemidos. Niso e Eurialo
— par de soldados enamorados, do exército romano de Enéias
e Safo, Décima Musa para Platão... que exalta o amor feminino
subvertendo a imagem tradicional de Helena de Tróia
incita raparigas de Lesbos à arte de viver e de ser mulher
numa sentida escrita lírica de beleza e de amor
em que o corpo, sagrado, pertence a Afrodite
A epopeia obedece ao espírito elevado da honra
na defesa dos ideais e da liberdade dos povos
O amor, na entrega do corpo, das emoções e do pensamento
dignifica todos os seres, independentemente da sua natureza
O fórum exulta com a eloquência de Camões
a Mensagem quase-perfeita de Pessoa...
De fora permanece a individualidade da turba ansiosa
esperando (ainda) que um Iniciado iluminado reencontre o Graal
que (contrário à lenda) extravasa o sangue do próprio povo
Florbela e Natália, mais próximas do íntimo divino
— porque mais verdadeiras com os sentimentos
A primeira capaz de um transcendido erotismo
um revelado paganismo a roçar a exegese da forma pessoana
Era a segunda que... não se revelando menos cultuadora de Eros
— honrando o pretérito dos visionários e o humanismo
dos que foram, acima de tudo, poetas do pensamento
partilhou os sofrimentos e as esperanças dos outros
contra os ciclopes da ordem absoluta
numa apologia da verdade cabal emanada de mais íntimo
de cada ser, panteisticamente defendida e cantada
pela pureza acrítica da poesia, que pune a falsificação da vida
submetidas às leis de moralismos utilitários
E numa deificante apoteose poética
acorrem ao templo outros profetas da palavra viva
— de todas as línguas, de todos os tempos
Tornam-se (em uníssono) a voz sacralizadora da poesia
por inspiração dos deuses — e do próprio Apolo
que cala a lugubridade das suas pitonisas
a hora sapiencial sabendo chegado
Coroados de louros
os poetas assomam ao pórtico, saúdam o povo
deixando transparece certezas e sensualidade
E ao evidente toque das trombetas
saem as sacerdotisas e as vestais
Ninguém entende a nudez e o erotismo como artes do mal|
antes como virtudes sagradas de um estado natural
A festa generaliza-se — quase só falta um ritual dionisíaco
Doravante, os mancebos loiros desprendem as suas clâmides e...
atraindo por momentos a admiração e o desejo face à sua beleza
provocam gritos de horror aos cobrirem os rostos com máscaras
que o povo reconhece como se de espelhos virtuais se tratassem
Somente alguns poetas excepcionais não se entregam ao medo
porque sabem que a realidade é interior e está no conhecimento
e na vontade de atingir a pureza da alma — a essência da poesia.
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Página publicada em novembro de 2021
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